A Escola dos Annales e a Nova História: Revolucionando a Forma de Fazer História
Se você já se perguntou por que a História, como disciplina, mudou tanto ao longo dos séculos, saiba que muito disso se deve a um movimento que começou no século XX e continua influenciando os historiadores até hoje. Estamos falando da Escola dos Annales, uma corrente historiográfica que propôs uma verdadeira revolução na maneira de escrever e entender o passado.
Neste artigo, você vai conhecer a origem da Escola dos Annales, seus principais representantes, os conceitos fundamentais que ela introduziu e por que ela é considerada uma das maiores transformações no estudo da História.
O que foi a Escola dos Annales?
A Escola dos Annales surgiu na França, em 1929, com a fundação da revista Annales d’Histoire Économique et Sociale, criada pelos historiadores Marc Bloch e Lucien Febvre. Eles estavam insatisfeitos com a forma tradicional como a História era escrita até então: focada apenas em grandes acontecimentos políticos, guerras, tratados e biografias de reis e líderes.
Ao invés disso, Bloch e Febvre acreditavam que a História deveria ir além dos eventos e datas. Eles propunham uma abordagem mais ampla, que envolvesse a economia, a sociedade, o clima, a mentalidade das pessoas e até o tempo psicológico dos indivíduos. Essa visão inovadora passou a influenciar gerações de historiadores.
Palavras-chave que definem a Escola dos Annales
Se você quiser entender a essência da Escola dos Annales, algumas palavras são fundamentais:
Longa duração: A ideia de que certos processos históricos acontecem lentamente e só podem ser compreendidos se analisados ao longo de séculos, não apenas em momentos pontuais.
História total: Uma tentativa de compreender o passado em todas as suas dimensões – econômica, social, cultural, política, ambiental e até emocional.
Interdisciplinaridade: A História passa a dialogar com outras ciências humanas, como a geografia, a sociologia, a antropologia e a psicologia.
Mentalidades: A valorização da cultura popular, dos hábitos cotidianos e das formas de pensamento das pessoas comuns no passado.
Esses conceitos transformaram profundamente a prática historiográfica, e fizeram da Escola dos Annales uma referência mundial.
Marc Bloch e Lucien Febvre: os fundadores
Marc Bloch foi um historiador que se destacou por sua obra A Sociedade Feudal e por seus estudos sobre a Idade Média. Durante a Segunda Guerra Mundial, participou da resistência francesa contra os nazistas e acabou sendo executado pelos alemães em 1944. Seu livro póstumo Apologia da História ou O Ofício do Historiador é leitura obrigatória para quem estuda História.
Lucien Febvre, por sua vez, era um defensor apaixonado da interdisciplinaridade. Ele acreditava que o historiador não podia ignorar os dados econômicos, os fatores geográficos e as práticas culturais. Sua obra O Problema da Incredulidade no Século XVI mostra como ele combinava história, religião e psicologia para entender o passado de forma mais rica.
A Segunda Geração: Fernand Braudel e a “Longa Duração”
Na segunda metade do século XX, a Escola dos Annales ganhou ainda mais força com Fernand Braudel, talvez o mais famoso representante do grupo. Sua obra-prima, O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrânico na Época de Filipe II, mudou a maneira como os historiadores pensavam o tempo histórico.
Braudel dividiu o tempo em três níveis:
Tempo curto: dos eventos e acontecimentos (como guerras e revoluções);
Tempo médio: das estruturas sociais e econômicas;
Longa duração: das civilizações, das geografias e das mentalidades.
Para Braudel, o historiador não deveria se prender apenas ao imediato, mas buscar compreender as forças de fundo que moldam as sociedades.
A Nova História
A partir da década de 1970, surgiu o que muitos chamam de “Nova História”, uma terceira fase da Escola dos Annales. Essa etapa é marcada por uma atenção ainda maior à cultura, ao cotidiano e às experiências individuais no passado. Historiadores como Jacques Le Goff, Michel Vovelle e Emmanuel Le Roy Ladurie exploraram temas como a religiosidade popular, a vida dos camponeses e até o clima medieval.
Essa nova fase foi influenciada também por correntes como a história das mentalidades e a micro-história, que olham para o passado através de pequenas histórias individuais que revelam aspectos mais amplos das sociedades.
Por que isso é importante?
A Escola dos Annales nos ensinou que a História não é apenas uma linha do tempo com datas e eventos. Ela é uma rede complexa de relações, experiências, ideias, estruturas e sentimentos. Quando um estudante aprende sobre a Revolução Francesa, por exemplo, ele não deve se limitar à queda da Bastilha ou à decapitação de Luís XVI. Ele precisa entender o que os camponeses sentiam, como o clima afetava as colheitas, como os jornais influenciavam a opinião pública e o que se passava na mente das pessoas naquele contexto.
Graças aos Annales, a História ficou mais próxima da vida real e menos elitista.
Escola dos Annales no Brasil
No Brasil, a influência da Escola dos Annales pode ser vista especialmente a partir da década de 1980, quando as universidades começaram a adotar abordagens mais voltadas para a cultura, o cotidiano e a interdisciplinaridade. Historiadores como Emília Viotti da Costa, Laura de Mello e Souza e João José Reis são exemplos de estudiosos que dialogam com essas ideias em suas pesquisas.
Além disso, os vestibulares, o ENEM e os livros didáticos começaram a incorporar temas antes ignorados: vida das mulheres, dos escravizados, dos povos indígenas e das camadas populares em geral.
Conclusão: a História como um campo vivo
A Escola dos Annales revolucionou a forma como entendemos o passado e continua sendo uma referência essencial para quem deseja estudar História com profundidade. Ao romper com a história factual e política, ela abriu portas para um conhecimento mais humano, mais próximo da vida cotidiana e mais conectado com outras áreas do saber.
Se você se interessa por História, vale muito a pena explorar os livros de Bloch, Febvre, Braudel e seus herdeiros. Eles mostram que o passado não é uma coisa distante e morta, mas algo vivo, que pulsa em nossa cultura, em nossos hábitos e até em nossos sentimentos.
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